Andar pela cidade do Rio de Janeiro é um atentado contra o bom gosto. Seria melhor não ter os cinco sentidos e, assim, não se perceberia todos os problemas da cidade, e eu penso que as nossas autoridades, sejam elas municipais, estaduais ou federais, não possuem quaisquer sentidos em seus corpos.
É preciso ser cego para não ver: a sujeira, os mendigos, os camelôs, os buracos, as favelas e, os ônibus, metrôs e trens lotados.
É preciso ser surdo para não ouvir: as buzinas dos carros engarrafados, os apitos dos guardas municipais enlouquecidos, as sirenes das ambulâncias e dos carros oficiais, ou não.
É preciso não ter olfato para não sentir o cheiro: das ruas fedendo a dejetos, águas empoçadas e lixo.
É preciso não ter paladar para não fiscalizar os inúmeros vendedores de sanduíches e outras porcarias.
É preciso, por fim, não ter pele para não sentir que a cidade do Rio de Janeiro é uma cidade abandonada, mal cheirosa, barulhenta, desorganizada.
A cidade do Rio de Janeiro é uma cidade sem sentido, que nem todas as placas de plástico na Linha Vermelha vão conseguir encobrir a feiúra, nem toda a água de mangueiras da prefeitura vão conseguir limpar a sujeira e nem todas as podas de árvores e de grama no Aterro do Flamengo vão conseguir trazer de volta - se é que já foi, anteriormente, - o direito de ostentar este estranho e falso apelido: cidade maravilhosa!